Cena: uma esquina escura. Homem parado no meio da rua. Chegam dois assaltantes, vindos um de cada lado, armados e falando quase ao mesmo tempo.
Os dois (em quase uníssono): Mãos ao alto!
Homem (levantando os braços): Oh!
Assaltante 1: Um momento, colega. Eu cheguei primeiro.
Assaltante 2: O colega está equivocado. Quem chegou primeiro fui eu.
Assaltante 1: Não é verdade. Quando eu acabei de dizer "ao alto", o senhor ainda estava em "mãos".
Assaltante 2: Absolutamente. Eu trabalho dentro da maior ética. Jamais roubei clientes de um colega.
Assaltante 1: Eu invoco o testemunho do cliente. (Para o homem:) O senhor, que tem uma aparência de pessoa honesta. Quem lhe apontou primeiro a arma?
Homem: Os senhores me desculpem, mas eu não gosto de dar palpite no trabalho dos outros.
Assaltante 2: Colega, o cliente está sendo retido desnecessariamente.
Assaltante 1: Culpa sua. Se não fosse o colega, o cliente já teria sido atendido, despachado e já estaria a caminho de casa. (Para o homem:) Pode abaixar os braços.
Homem (abaixando os braços): Obrigado.
Assaltante 2: Então, como vamos resolver esse impasse?
Homem: Posso dar uma sugestão? Eu estou com duzentos na carteira. Cem para cada um.
Assaltante 1: Não, senhor, eu não trabalho com abatimento.
Assaltante 2: Eu também não. É tudo ou nada. Sem desconto.
Assaltante 1: Então não tem assalto.
Assaltante 2: Não tem assalto. (Para o homem:) O senhor está liberado. Boa noite.
Assaltante 1: Boa noite. (Saem cada qual para seu lado.)
Homem (aliviado): É por isso que eu digo: quanto mais ladrão, melhor.
(Max Nunes. O pescoço da girafa. São Paulo, Compainha das Letras, 1997. p. 11-13)
Por: Mário Brandes
Os dois (em quase uníssono): Mãos ao alto!
Homem (levantando os braços): Oh!
Assaltante 1: Um momento, colega. Eu cheguei primeiro.
Assaltante 2: O colega está equivocado. Quem chegou primeiro fui eu.
Assaltante 1: Não é verdade. Quando eu acabei de dizer "ao alto", o senhor ainda estava em "mãos".
Assaltante 2: Absolutamente. Eu trabalho dentro da maior ética. Jamais roubei clientes de um colega.
Assaltante 1: Eu invoco o testemunho do cliente. (Para o homem:) O senhor, que tem uma aparência de pessoa honesta. Quem lhe apontou primeiro a arma?
Homem: Os senhores me desculpem, mas eu não gosto de dar palpite no trabalho dos outros.
Assaltante 2: Colega, o cliente está sendo retido desnecessariamente.
Assaltante 1: Culpa sua. Se não fosse o colega, o cliente já teria sido atendido, despachado e já estaria a caminho de casa. (Para o homem:) Pode abaixar os braços.
Homem (abaixando os braços): Obrigado.
Assaltante 2: Então, como vamos resolver esse impasse?
Homem: Posso dar uma sugestão? Eu estou com duzentos na carteira. Cem para cada um.
Assaltante 1: Não, senhor, eu não trabalho com abatimento.
Assaltante 2: Eu também não. É tudo ou nada. Sem desconto.
Assaltante 1: Então não tem assalto.
Assaltante 2: Não tem assalto. (Para o homem:) O senhor está liberado. Boa noite.
Assaltante 1: Boa noite. (Saem cada qual para seu lado.)
Homem (aliviado): É por isso que eu digo: quanto mais ladrão, melhor.
(Max Nunes. O pescoço da girafa. São Paulo, Compainha das Letras, 1997. p. 11-13)
Por: Mário Brandes