domingo, 13 de março de 2011

Palavras de verdade


A oratória sempre exerceu um fascínio gigantesco no homem. As palavras sempre foram a arma do convencimento, provocam de maneira tão intensa guerras, beijos e lágrimas.
Mesmo vivendo em um tempo imediatista, em que as palavras por vezes não ultrapassam 140 caracteres (e nem por isso tornam-se menos impactantes), as pessoas têm uma certa concepção de um texto bom, como algo rebuscado, talhado cuidadosamente, com cada vírgula em seu devido lugar.
Essa concepção gera um certo temor quando "pessoas normais" escrevem, fazendo com que elas no geral depreciem suas próprias palavras apenas por elas não estarem nos moldes desse ideal de texto. Entretanto, acontece que a palavra é como se fosse uma casca do pensamento, da intenção, do desejo; uma roupa sobre a alma. E é o que está além desse invólucro que é o que realmente conta, a palavra de verdade, a que reflete o cotidiano, as ideias e os ideais de quem escreve. A palavra é o espelho da alma e isso basta.

Por: Mário Brandes

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Há vagas para super-heróis


Já faz um tempo que eu penso que o maior clichê da minha geração é criticar a minha geração. A juventude lamenta viver entre tantos outros jovens sem ideais, apáticos, apolíticos e acostumados a terem tudo em suas mãos e ainda reclamarem disso.
Há um tempo também tento evitar cair nesse ciclo e então, sempre que pensar em reclamar, tento pensar também em agir. Entretanto, o que me inspirou a escrever este post foi um episódio da série Smallville no qual em uma entrevista à TV, o personagem Arqueiro Verde que revelou sua identidade de super-herói à população, justificou sua posição dizendo que preferia assumir sua condição e lutar pelo que de fato acreditava, mesmo sendo criticado por muitos, do que cair na situação da geração atual de impiedosos blogueiros, críticos extremistas que entretanto, não agem.
Pensando nisso, lembro do super-herói clássico, quase desumanizado, preso a um código de ética pessoal e de valores que inspiram a ação. E mesmo sendo este tipo de herói um ser altamente idealizado, vale lembrar os heróis do dia a dia, trabalhadores, pais, pessoas que insistem em viver com honestidade e caráter.
Abram os jornais na seção de classificados, há vagas para estes super-heróis.

Por: Mário Brandes

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

11 anos e um segredo

Eis que aqui as palavras amontoam-se para configurarem o primeiro post do Efêmero & Irônico de 2011. O blog estava novamente parado, eu estava sem criatividade para novos textos, embora muita coisa tenha acontecido nesse meio tempo tanto no mundo quanto em minha vida particular. Eu cobrei a minha companheira Daíse para que ela escrevesse sobre sua experiência no show do Paul McCartney em Porto Alegre ano passado, mas seu afazeres de acadêmica não deixaram.
Enfim, é clichê de fim/início de ano ficar falando que é um novo tempo, mas de fato 2011 é uma nova era, um momento histórico ímpar. Inicia-se agora um novo ano, uma nova década, uma nova gestão da república, dessa vez por uma mulher.
Há 11 anos atrás era para o mundo ter acabado, todo mundo já ouviu a ladainha de que o fim era em 2000, agora será em 2012. A vida seguiu e ainda segue. Até quando é um mistério, mas um mistério particular de cada pessoa.
Tô viajando já, como nas desculpas do cinema, deve ser o alinhamento dos planetas.

Por: Mário Brandes

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

CPMF: O Retorno.

É sob uma saraivada de expectativas negativas e pré-desilusões que o Brasil recebeu a notícia da possível volta da Contribuição Provisória sobre Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza Financeira (CPMF).
A CPMF (leia paixão do Lula) começou a vigorar em janeiro de 1997 e 10 anos depois foi abolida pelo Senado por 45 votos a favor e 34 contra. Hoje, em fins de 2010, após o término das eleições presidenciais se iniciou a discussão sobre a volta do citado tributo.
A maioria dos novos governantes eleitos é a favor da volta da CPMF, sob a alegação de que a "saúde está quebrada" e para consertá-la é necessário um "pequeno sacrifício". Ora, gato escaldado tem medo de água fria! Como a população pode ver o retorno deste tributo como um sacrifício em prol da sociedade, se não é possível enxergar o retorno de todos os demais impostos - que não são poucos - nas mais diversas áreas, como estradas, por exemplo.
Sabendo da possível grande rejeição que a população faria ao retorno da CPMF, este assunto praticamente não foi levantado durante os debates eleitorais. Maldade, né? Ou será que a ideia surgiu um dia após o término do segundo turno? Isso mostra que esses governantes metamórficos, que modificam suas próprias convicções para conquistar eleitores, ao invés de convencerem estes da relevância de suas posições, estão mesmo em constante transformação. Cuidado!

Por: Mário Brandes

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Poética do cotidiano


"Gosto é gosto e não se discute". Concordo em partes com essa afirmação, de fato gosto é gosto - e como haveria de ser outra coisa? - entranto há de ser discutido, embora possa não haver nenhum resultado relevante de tal discussão.
A discussão de agora é a poética das canções de amor. Fui acusado de ser um insensível, um coração de pedra ao afirmar que não gosto de sertanejo universitário - universitário? mostra o diploma! O argumento para me definirem de tal forma: "Tu não é romântico". Certo, questões de ponto de vista, particularmente, me considero um cara romântico, tanto no sentido popular como no sentido de uma pessoa absolutamente idealista.
Mas, o que há de romântico no sertanejo - dito - universitário? Para mim, o romantismo verdadeiro está em enxergar o amor nos aspectos mais simples do dia a dia, na convivência, na humanidade, nas brigas por um filme, no ciúme bobo, na vida. E não, em situações "românticas" do exagerado, do mais do que hiperbólico, do "meteoro da paixão". Isso banaliza tudo em um sentimento tão fake quanto os "gaúchos" da novela Araguaia. As pessoas esperam serem arrebatadas por um cafona "meteoro da paixão" enquanto vivem o amor no amanhecer, no almoço, no trabalho, nas pequenas situações cotidianos que são sutilmente poéticas.
Como exemplo de uma poética do cotidiano, transcrevo a música Vamos Viver de Herbert Vianna, que na minha opinião, é uma das pessoas que melhor descreve este nobre sentimento:

Vamos Viver
Herbert Vianna

Vamos consertar o mundo
Vamos começar lavando os pratos
Nos ajudar uns aos outros
Me deixe amarrar os seus sapatos
Vamos acabar com a dor
E arrumar os discos numa prateleira
Vamos viver só de amor
Que o aluguel venceu na terça-feira

O sonho agora é real
E a chuva cai por uma fresta no telhado
Por onde também passa o sol
Hoje é dia de supermercado

Vamos viver só de amor

E não ter que pensar, pensar
No que está faltando, no que sobra
Nunca mais ter que lembrar, lembrar
De pôr travas e trancas nas portas

Por: Mário Brandes

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O Mito do Desperdício


Próximo domingo há segundo turno para as eleições presidenciais e, já aviso, este post não tem nenhuma pretensão de inspirar o voto nulo a quem realmente se interesse a votar em determinado candidato.
Eu, particularmente, não me sinto representado por José Serra, tampouco por Dilma Roussef, mas acredito que quem se sente representado por algum destes faz correto em votar, afinal, está assim exercendo seu direito de cidadão e indo atrás do que acredita ser melhor para si e para o seu país.
O que é irritante é a tentativa de massificação de pensamentos com a campanha contra os votos brancos e nulos. Em propagandas políticas o voto nulo não é nem mencionado enquanto o voto em branco é anunciado como "desperdício de um direito", fazendo com que muitas pessoas se sintam culpadas (sim, isso acontece, conheço gente que cai nesse papo) e votem no primeiro candidato que encontram, mesmo sem o conhecer para que seu voto não seja "desperdiçado".
Entretanto, não é um desperdício ainda maior seu voto ser destinado a alguém que você não conhece ou pior, não acredita? O voto nulo e o branco é o direito de não ter de engolir imposições, é o direito de não crer. É essencialmente um direito, não deixe que lhe tirem.

Por: Mário Brandes

Chega de "Lucianohuckzação"!


É comum eu ler uma crônica, um artigo ou qualquer outro texto e pensar "putz, é exatamente isso que penso, é uma pena eu não ter escrito isso", e acabo então louvando o texto original e não escrevo nada a respeito.
A coluna de Miguel Sokol na versão brasileira da revista Rolling Stone desse mês é absolutamente genial e traduz meu pensamento, dessa vez não tenho como calar o texto e não comentar nada a respeito.
O título do texto de Sokol é Deixem a Rita em paz! referindo-se a Rita Lee, que em seu twitter, dispara sem dó alfinetadas para todos os lados sem medo de que alguém se desagrade disso.
Essa coragem de Rita é o que de mais essencial falta às pessoas como um todo hoje em dia, existe uma "lucianohuckzação" - termo criado por Sokol -, uma tentativa forçada de ser gente boa, de agradar a todos, de gostar de todos e de ser querido por todos. Tudo contribui para exterminar o mínimo de personalidade que resta (resta alguma, né?) da geração do século XXI.
Chega de farsas, de forçar diplomacia, tem de beijar quando se quer e mandar tomar no cu quando se quer também. Viva a personalidade!

Por: Mário Brandes