O que não inventam? Com certeza você já escutou essa pergunta. Concorde ou não, a tecnologia é uma constante ascendência que nos cerca. E faz ela muito bem. Trouxe tantas facilidades e confortos, que nos fazem dependentes. As crianças já nascem sem paciência, tudo deve ser breve, afinal, o tempo voa.
As vantagens mecânicas, elétricas e também manuais, as quais podemos usufruir hoje, deveriam nos tornar pessoas mais tranquilas. Mas, a bem da verdade, isso não acontece.
Mencionei às crianças, explico. Tenho um sobrinho, e ele é a alegria do lar, como qualquer criança que se possa conviver antes dos oito anos de idade, salvo exceções. Tenho também em casa um eletrodoméstico de utilidade imprescindível: rápido, eficaz e prático. Realmente o micro-ondas é uma admirável invenção, e também é uma alegria na casa, só que apenas na cozinha.
Mas o guri não suporta o barulhinho do aparelho, não aguenta ver a luz acesa. Plena hora do café, e eis que o pequeno projeto de gente, surpreendeu-me quando por extinto, tomou nas mãos uma colher, digo a você, simples, o talher tem cabo azul e parte metálica como tantas colheres que a gente ocupa. Impaciente e bruto dirigiu-se até a frente do aparelho elétrico de uso caseiro, sem escrúpulos, e espancava a inofensiva caixa branca com luz amarela no interior, batia com força e estava gostando.
Eu nada falei e fiz, por segundos me encontrei estática observando a primeira surra que o pequeno dava. Percebo agora que naquele momento caí em mim, o sobrinho me explanava como num futuro não tão longe, homem e máquinas irão se relacionar. Decidi livrar o aparelho de tamanha humilhação, ora todo mundo merece respeito e reconhecimento. Veja bem, quem que em tempo recorde esquenta água para o café, por exemplo, que nesse frio, rapidamente, descongela carnes que estão sólidas feito pedras?
Penso, logo tirei o menino dali. Expliquei que por mais que a gente sinta muuuuita vontade de bater em algo ou alguém, é sempre bom manter o controle e sensatez. Em palavras claras, instantâneas e acima de tudo pacientes, disse: Se bater ali de novo, não vai ganhar mama! Ele parou no mesmo instante.
Sempre procuro entender todos os problemas e encontrar jeitos para resolvê-los. Parti com ideia de estar com dois anos de idade. Visualizei-me sentindo bastante fome, minha mamadeira sendo preparada diante de mim, e antes que eu saboreasse quem tirava uma provinha era aquela caixa branca com luz amarela dentro, minha janta, o aparelho abocanhara antes, bem como um adorável iogurte, sempre antes de mim - ele-, e assim via todos meus alimentos. Só eram liberados para mim após três buzininhas ridículas.
Antes de dar início a minha agressão contra o micro-ondas, escutei as três buzininhas.
Agora, desculpe, com sua licença o café está pronto!
Obs: a foto é do sobrinho!
Por: Daíse Carvalho