domingo, 10 de outubro de 2010

Quando somos insetos.


"Certa manhã, após um sono conturbado, Gregor Samsa acordou e viu-se em sua cama transformado num inseto monstruoso."
Com esta frase, o escritor Franz Kafka, inicia sua famosa obra A Metamorfose que comecei a ler hoje. O protagonista do enredo, que se transforma em um inseto gigante acaba sendo visto pela própria família com sentimentos de medo, nojo e até mesmo um certo ódio devido à sua aparência monstruosa. Semana passada, no programa A Liga, da Band, foi feita uma matéria em que dois homens - um de boa aparência e outro aparentando grande pobreza - diziam ter perdido a carteira e então pediam dinheiro para a passagem de ônibus. O homem de boa aparência facilmente conseguia atenção e arrecadou cerca de 30 reais em um curto espaço de tempo, enquanto o outro no mesmo período não conseguiu sequer 5 reais e não conseguia sequer que o escutassem com atenção, era tratado com indiferença, por vezes até com repulsa - de modo semelhante como foi tratado o personagem protagonista de A Metamorfose.
Já ouvi e já li que o século XXI é o século das aparências, da ostentação, do fashion, logo, acrescento: do vazio. A excessiva glamourização do ter e a sobreposição da aparência sobre a essência faz com que sejamos insetos - tais quais Gregor Samsa - disfarçados de deuses do olimpo da moda, vivendo em um eterno e carnavalesco baile de máscaras. Mas, de dia, no fim deste baile, quando as máscaras já não tiverem uso, e todo mundo perceber que todos são insetos, o que restará?

Por: Mário Brandes
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